segunda-feira, 20 de setembro de 2010

por Mário Cesariny

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa sacode.
Não sei se fodo tudo
Ou se tudo me fode.

A brisa é o lago a ir
A uma ideia de mar.
Não sei se me ate a rir
Ou desate a chorar.

Trémulos vincos medonhos
Cercando a água toda,
Porque fiz eu dos sonhos
A minha única nódoa?

arrasta que está gasta

está gasta a palavra
está gasto o pedido
estão gastos os gestos.
estou gasta e arrasto o medo
porque sem ele não vivo.
arrasta e empresta.
está gasta e já não presta.
a caneta, a pasta, arrasta
que já não se segura em pé.
é noite
quer sucumbir durante o sono
dizer basta!
quer que a sorte deixe de ser madrasta
e que
durante o sono
se torne mãe.